Flávio Bolsonaro defende operações diárias no Rio e gera debate sobre combate à violência
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) voltou a gerar polêmica ao defender que o Rio de Janeiro precisa de ações constantes no modelo da recente megaoperação “Contenção”, que deixou 132 mortos nos Complexos da Penha e do Alemão.
Durante o programa “Conversa Timeline”, transmitido no YouTube, o parlamentar afirmou que ações desse porte precisam ocorrer “todos os dias” para restaurar a ordem e enfrentar as facções criminosas.
“Essa foi, de verdade, a maior operação policial da história do Rio. E espero que ela permaneça. O Rio precisa de operações como essa todos os dias, para combater os grandes males que a malfadada ADPF 635 trouxe ao estado”, declarou o senador.
O alvo da crítica: ADPF das Favelas
A declaração de Flávio faz referência à ADPF 635, conhecida como ADPF das Favelas, apresentada pelo PSB em 2019 e que impõe limites à atuação policial em comunidades. A medida visa reduzir a letalidade das ações de segurança pública e garantir o cumprimento de protocolos mais rigorosos, especialmente em áreas densamente povoadas.
Desde então, a norma tem sido alvo de críticas de setores ligados às forças policiais, que afirmam que as restrições aumentaram o poder de fogo das facções e dificultaram o combate ao crime organizado.
Expansão da criminalidade e críticas à restrição policial
Segundo o senador, a ADPF 635 teria “potencializado a tragédia da segurança pública no Rio”, ao permitir a expansão de milícias e facções em diversas regiões.
“Os 2.500 agentes que participaram da operação Contenção merecem todo o reconhecimento. Não é qualquer um que entra em uma guerra dessas. São heróis”, afirmou Flávio.
O parlamentar também destacou o volume de armas apreendidas durante a ação, incluindo mais de 100 fuzis em um único ponto das comunidades. Ele lembrou que cerca de 4 milhões de cariocas vivem sob domínio do crime, sem acesso a serviços básicos ou à presença efetiva do Estado.
O balanço da operação
A operação Contenção, que tinha como alvo o Comando Vermelho (CV), foi considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro.
Segundo dados oficiais, 132 pessoas morreram, incluindo quatro policiais, e 128 civis. Cerca de 100 mandados de prisão foram cumpridos.
O governo do estado classificou a operação como parte de uma estratégia “permanente” de enfrentamento ao crime organizado, enquanto entidades de direitos humanos denunciaram falta de transparência e ausência de identificação dos corpos de diversas vítimas.
Segurança x direitos humanos
As imagens de dezenas de corpos deixados nas ruas dos complexos — 64 deles, segundo a Defensoria Pública — provocaram protestos e reações internacionais.
Questionado sobre a cena, Flávio Bolsonaro respondeu:
“Não podemos mais achar que toda operação policial é um erro. Há uma guerra em curso. Precisamos enfrentar quem escolheu viver do crime.”
O dilema do Rio
A fala do senador reacendeu o debate entre segurança pública e direitos humanos, um dos temas mais sensíveis do país.
Enquanto defensores da tolerância zero apoiam a linha dura proposta por Flávio, críticos alertam para o risco de se ampliar a violência e perpetuar o ciclo de mortes em comunidades vulneráveis.
O episódio expõe, mais uma vez, o dilema que assombra o Rio de Janeiro há décadas: como combater o crime sem multiplicar as vítimas?

