Em meio à comoção pela morte da brasileira Juliana Marins, de 26 anos, durante uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia, um nome ganhou destaque e admiração nas redes sociais: Agam Rinjani. Guia local e experiente alpinista, Agam se tornou símbolo de coragem e solidariedade ao se voluntariar para buscar Juliana que caiu no vulcão na sexta-feira (20) e foi resgatada nesta quarta-feira (25), já sem vida.
Agam, montanhista voluntário relata resgate de brasileira na Indonésia: ‘Fiz o que pude’ — Foto: Reprodução
Sem apoio do governo e em condições extremamente difíceis, Agam liderou uma missão de resgate por conta própria. Com ajuda de um parceiro, ele encarou trilhas perigosas por horas a fio todos os dias, em meio a neblina espessa, terreno escorregadio e quase nenhuma visibilidade. A área onde Juliana caiu fica a mais de seis horas de caminhada do ponto inicial da trilha, em uma parte remota do Parque Nacional do Monte Rinjani, na ilha de Lombok.
O guia chegou a montar um acampamento improvisado, como mostraram vídeos publicados em suas redes sociais. Nas imagens, é possível ver barracas, cordas, capacetes e outros equipamentos usados durante a missão. Tudo foi feito com recursos próprios e um único objetivo: trazer Juliana de volta.
Riscos
Segundo Agam, ele e outros voluntários passaram a noite com Juliana à beira de um penhasco de 590 metros, utilizando âncoras para impedir que ela descesse ainda mais 300 metros pela encosta. Durante o resgate, o guia chegou a machucar a perna e enfrentou condições adversas: chovia forte e fazia frio no alto do Monte Rinjani.
Durante uma live no Instagram com ajuda de uma tradutora — já que fala apenas indonésio —, Agam comentou que sabia dos riscos envolvidos na operação. “O risco de vida era real. Eu e os outros voluntários sabíamos que poderíamos morrer”, disse, lembrando que não chovia apenas água, mas também pedras, por causa do solo que ia escorregando durante o resgate.
“Gostaria de ter feito mais, peço desculpas, mas fiz o que pude”, traduziu Sinthia Stepani. Em entrevista, o voluntário contou que ele e demais voluntários seguraram por toda a madrugada o corpo de Juliana. Foram momentos difícieis até que amanhecesse o dia. Muitos sentiram fome e só conseguiram comer por volta de uma hora da manhã, no fuso horário da Indonésia.
Tragédia
A brasileira Juliana Marins foi encontrada morta nesta terça-feira (24), após quatro dias desaparecida no vulcão Rinjani, na Indonésia. A jovem, natural de Niterói (RJ), caiu durante uma trilha na última sexta-feira (20), sofrendo uma queda de aproximadamente 300 metros da trilha. A confirmação do óbito foi feita pela família e pelo Itamaraty.
Jovem Juliana Marins, 26 anos, caiu em trilha na Indonésia — Foto: Redes sociais
Juliana, dançarina de pole dance e publicitária formada pela UFRJ, estava em um mochilão pela Ásia desde fevereiro, tendo passado por Filipinas, Tailândia e Vietnã. O acidente ocorreu enquanto ela e uma amiga realizavam uma trilha no vulcão Rinjani. Em um vídeo gravado antes da queda, as jovens comentaram que a vista “valeu a pena”.
Após a queda de cerca de 300 metros, Juliana inicialmente conseguia mover os braços. Cerca de três horas depois, turistas a avistaram e contataram a família, enviando a localização exata e imagens. A família relatou que Juliana ficou desamparada por quase 4 dias aguardando resgate, “escorregando” montanha abaixo.
Durante os resgates, por diversas vezes a jovem era avistada em pontos diferentes. Via drone, Juliana foi avistada pela última vez, antes de ser encontrada morta, cerca de 500 metros penhasco abaixo, visualmente imóvel. Posteriormente, o corpo foi encontrado a cerca de 650 metros de distância do local da queda.
A história de Juliana, que partiu realizando o sonho de mochilar sozinha pelo mundo, se cruza agora com a de Agam, um homem comum que decidiu agir quando poucos teriam coragem. E, mesmo com o desfecho trágico, sua atitude comoveu o Brasil, e o mundo.