Reviravolta no caso Heloysa: Padrasto afirma que ‘mãe mandou matar a filha’ e suposta motivação do crime é banal

Casos de violência doméstica que resultam em tragédias irreversíveis frequentemente escancaram falhas estruturais em mecanismos de proteção social, especialmente quando envolvem menores em situação de vulnerabilidade.

No Brasil, apesar dos avanços em legislações voltadas à proteção infantojuvenil, muitos jovens ainda enfrentam riscos dentro do próprio lar, onde deveriam encontrar segurança e acolhimento.

Em Cuiabá, capital do estado do Mato Grosso, um crime brutal envolvendo a adolescente Heloysa Maria de Alencastro Souza, de apenas 16 anos, trouxe à tona um cenário de intolerância, omissão e crueldade.

Heloysa estava desaparecida até a madrugada da última quarta-feira (23), quando seu corpo foi encontrado sem vida, dentro de um poço. A revelação chocou a cidade e teve um desdobramento ainda mais estarrecedor com a prisão do padrasto da jovem, Benedito Anunciação de Santana.

Em depoimento, ele acusou a mãe da vítima, Suellen de Alencastro Arruda, de ser a mandante do assassinato, alegando que a motivação teria sido a não aceitação da orientação sexual da filha.

O caso teve início após um alerta de roubo envolvendo um veículo, no qual Heloysa teria sido vista. A partir daí, câmeras do sistema Vigia Mais MT auxiliaram na identificação dos suspeitos.

Entre os detidos está Gustavo Benedito Junior, de 18 anos, filho de Benedito, que confessou sua participação no crime. A investigação revelou que Heloysa foi estrangulada com um cabo USB, o que evidencia a brutalidade do ato.

Benedito negou ter executado o crime diretamente, alegando ter apenas seguido ordens da mãe da vítima. “Ela nunca aceitou que a filha gostasse de mulheres. Pediu para eu resolver isso. Agora precisa ter coragem de assumir o que pediu”, afirmou Benedito.

Já Suellen, que inicialmente se apresentava como vítima, passou a ser investigada por envolvimento direto no homicídio da filha. O crime é tratado como homicídio qualificado, com agravantes que indicam motivação homofóbica, levantando sérias questões sobre intolerância dentro das famílias.

A tragédia de Heloysa reforça a urgência por políticas públicas mais eficazes na proteção de jovens LGBTQIA+, especialmente em ambientes familiares, onde muitas vezes enfrentam rejeição e violência.

A sociedade é chamada a refletir sobre o papel da educação e do acolhimento como pilares na construção de um ambiente verdadeiramente seguro e inclusivo para todos.